12 março 2005

Facas, tesouras e guarda-chuvas

Ao longe ouvi uma melodia familiar da minha infância, tocada por lábios conhecedores daquela gaita. Uma nota grave, longa, uma rápida passagem por todas as notas do tom mais grave ao mais agudo, uma descida de volta aos tons mais graves em três degraus e outra vez uma viagem do grave ao agudo.

Familiar, como se fosse hoje.

Quando era criança na minha vila, seduzia-me a passagem daquela personagem do amolador, que tratava de deixar as tesouras da minha mãe a cortar como as do alfaiate da terra, as facas ganhavam nova vida e os guarda-chuvas, que naquela altura custavam dinheiro, tinham direito a mais do que uma vida. Intrigava-me aquela pessoa que aparecia com a sua oficina ambulante. Aquela pedra que era animada a uma velocidade vertiginosa e rápido começava a cuspir faiscas. Um espectáculo que não perdia!

Familiar, e também surpreendente, porque aconteceu hoje mesmo à porta de casa, nos arredores de Lisboa.

Fiquei com saudades.

às 17/3/05 10:49, Blogger Tão só, um Pai disse...

Boa recordação, a tua. Quando ainda vivia na casa dos meus pais, o amolador tinha um toque diferente. Soava numa esccala que lhe desconhecia, e que me intrigou. Tentei gravá-la, mas nunca mais o encontrei. Foi pena.

 
às 20/3/05 01:38, Blogger Nuno Lacerda disse...

Também tenho essa recordação da infância, essa melodia! Nunca percebi realmente o que fazia esse homem, a minha mãe explicava-me que era o afia-facas mas nunca o cheguei a ver afiar uma faca. Para mim era apenas um homem que percorria as ruas de manhã a distribuir recordações de infância pela cidade.

 
às 21/3/05 18:30, Blogger Tão só, um Pai disse...

Zoom,
Gostava de saber onde está a cassete em que gravei o toque de um amolador que passava à porta dos meus pais. Era mesmo diferente. Lá pedi ao homem para me tocar ao gravador.

 
às 22/3/05 11:02, Blogger João Duarte disse...

Já pensei em fazer algo parecido, se me der conta de o amolador passar mais alguma vez.

 
às 9/4/05 12:57, Anonymous Anónimo disse...

Recordo-me bem do amolador quando vivi uns tempos na terra do meu pai, em casa da minha avó.
Vivo no Cacém e tambem me lembro de um velhote amolador que subia a minha rua a pé, agrarrago à sua bicicleta antiga, com o material preso na grelha de tras e a tocar a melodia.
A ultima vez que ele passou por cá deve ter sido há uns 10 anos. Possivelmente já faleceu.. possivelmente era o ultimo desta área..

 

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