20 junho 2005

Xenofobia & Burocracia

Desde pequeno que desenvolvi esta ideia de que Portugal é um país simpático, amigável, acolhedor, hospitaleiro dos estrangeiros.

Hoje tenho a certeza que essa ideia está errada.

A verdade chegou a partir do momento em que deixei de dar ouvidos às "frases feitas" que alimentavam o ego português e comecei a ouvir os testemunhos das dificuldades e dos obstáculos encontrados por vários estrangeiros que de maneira voluntária procuram a integração no meio de nós.

A maior parte é atacada em duas frentes:

Xenofobia
É muito bonito ter estrangeiros a virem cá passar férias. Mas se insistem em viver, trabalhar ou criar uma família por cá, são (cada vez mais) vistos como excedentários, indesejados, "pessoas que não sabem nada sobre como as coisas funcionam cá" e "a quem temos de explicar tudo". "Se acham isto complicado, porque não voltam para o país deles?"

A xenofobia que se vê pode ser mais assustadora e fácil de rejeitar, mas é a que está escondida que é mais persistente.

Burocracia
Nós, os portugueses, lutamos com muita burocracia. Vamos a uma repartição, dão-nos indicações com palavras que nunca ouvimos na vida e que não temos a certeza do que significam, dizem que precisamos de certos papéis, preenchemos tudo apesar das confusas ou inexistentes instruções, voltamos à repartição, somos atendidos por outra pessoa que nos informa que "falta um papel", que "aqui não era para preencher", que "agora é naquela fila". Não é normal lidarmos com funcionários que se dão ao trabalho de nos informar e ajudar.

Mas isto não se compara com o que um estrangeiro enfrenta. Normalmente encontra as mesmas dificuldades que nós, mais as acrescentadas pela rapidez com que tem de aprender a lidar com situações que nós aprendemos ao longo de vários anos, pela dificuldade em se fazer entender na nossa língua perante funcionários pouco tolerantes à quebra da rotina, por ser tratado como estúpido quando faz uma pergunta, por num serviço lhe dizerem "é assim" e noutro "é assado", por ter de preencher 3 impressos em vez de um, por precisar de declarações do país de origem traduzidas e validadas numa embaixada ou consulado português, mesmo que o documento tenha sido emitido numa língua oficial da UE.

Felizmente há pessoas que contrariam esta realidade. Mas não são suficientes para fazer jus à fama que alimentamos no nosso ego.

P.S. - Podem dizer-me que os portugueses lá fora passam pelo mesmo. Eu pergunto se isso corrige o problema.

13 junho 2005

Eu, um criminoso?

"Estas coisas não acontecem nos países em que são dadas condições de vida às pessoas, formação, educação, cultura. As pessoas não nascem criminosas!" disse o criminologista Barra da Costa enquanto comentava sobre o "arrastão" na praia de Carcavelos.

O que se passará em países como os do Norte da Europa, os Estados Unidos, o Canadá, pródigos em políticas que proporcionam condições de vida humanas, formação, educação e cultura? Terão conseguido fazer chegar esses serviços a toda a sociedade? Estarão esses países imunes à criminalidade de gangs? Não haverá também nesses países "pessoas revoltadas e que andam à deriva"? "Jovens em situação de risco - alguns ligados à toxicodependência -, que vivem em bairros degradados e estão nas franjas da sociedade"? Mais... serão as boas condições de vida um garante para a eliminação de criminalidade? Talvez não sucedam "arrastões", mas a eliminação de criminalidade?

O chavão ficou a soar...
"As pessoas não nascem criminosas!"

A verdade é que se nasce com propensão para falhar, para errar, para fazer o que está mal. É a aprendizagem, é a imitação, é a educação, são os valores, são as leis (em último lugar) que moldam as pessoas no seu desenvolvimento, dando-lhes uma noção do que é bom e do que é mau.

Nâo estive na praia nesse dia, por isso vou revelar:
Eu nasci criminoso.


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