25 fevereiro 2005

A informação essencial

Vejo as imagens a passarem no televisor enquanto tomo o pequeno almoço, pessoas com frio, uns saco-camas, cobertores e bebidas tentam aquecer o corpo e o ânimo, uma longa espera, uma lista de nomes tenta evitar o caos, uma pessoa com um microfone na mão vai fazendo uma pseudo-reportagem em directo do local, tentando convencer-me que a ocupação de mais de cinco minutos de noticiário é necessária, é um serviço público. "Eu" só precisava de saber que os bilhetes para os U2 estão à venda... Não consegui saber quase mais notícias nenhumas para além dos resultados do futebol do dia anterior. Tenho de ir para Lisboa. Provavelmente, devia ficar contente por já ter a informação essencial do dia. AAAHHRG.

21 fevereiro 2005

Uma decisão pelas piores razões

Os resultados das eleições legislativas que se realizaram ontem foram históricos para o PS, que obteve a maioria absoluta, após uma manifestação alargada de descontentamento pela forma como estavamos a ser governados.

Pensamento 1
Vistas bem as coisas, este fenómeno já se fez sentir antes. Recuando um pouco, a um passado recente, o PS de Guterres sucedeu a um PSD, desgastado na opinião pública pela governação de Cavaco Silva e Durão Barroso conseguiu levar o PSD à vitória depois do PS também apresentar o mesmo tipo de desgaste, após a governação de Guterres.

As circunstâncias que levam à realização de eleições podem ser diferentes, mas a imagem desgastada do governo tem efeitos semelhantes. Uma maioria do povo português desenvolve uma insatisfação crescente relativamente à força política que o governa, essa insatisfação é materializada pela oposição ao governo e passa a ter crescente acompanhamento da comunicação social, acelerando, potenciando o desgaste. É só necessário aguardar algum tempo para que, na próxima vez em que os eleitores são chamados a votar para a Assembleia da República, se complete a viragem política.

Pensamento 2
Talvez seja redutor, mas vou considerar 4 tipos de eleitores. Primeiro, eleitores que se identificam de forma continuada com uma força política, com os seus valores, com a sua postura política, ou outro critério. Segundo, eleitores que tendo determinados valores, ou pensamento político, votam no partido que, no momento, melhor se aproxima desse perfil. Terceiro, eleitores que não se identificando directamente com forças politicas, nem tendo valores bem vincados, querem, pelo menos, escolher um governo capaz e votam baseando-se na percepção que têm de qual será a melhor alternativa.

Quando os eleitores escolhem o Partido Socialista, que lidera a oposição, para suceder ao Partido Social Democrata, que governa, porque o fazem? Porque o fazem, quando as posições são as inversas?

Porque têm um maior esclarecimento das propostas de governação? Ou, a maioria dos portugueses entendem que os valores defendidos pelo PS (ou PSD) são os valores com que se identificam? Ou, a qualidade do programa eleitoral proposto como alternativa ao do partido do governo é claramente superior, incluindo medidas eficazes para resolver os problemas do país e fomentar o seu desenvolvimento de forma sustentada e justa para todos os portugueses?

Ocorre-me mais uma a razão, a que me parece explicar melhor, o que tem acontecido nas últimas alternâncias politicas. A decisão de quem governa o país está nas mãos de um quarto tipo de eleitores, que descontentes com a governação da força política no poder votam no partido da oposição. Não votam assim porque acham que esse partido é uma melhor escolha. Votam assim porque querem votar contra o partido que consideram a pior escolha, castigando-o pelas suas falhas e fraquezas. Uma decisão pelas piores razões.

Pensamento 3
(Para os que fazem a opinião pública – políticos, comentadores de política e jornalistas)
Valia a pena ensinar os portugueses a julgarem os seus governos de outra forma. Mais ninguém o fará.

18 fevereiro 2005

World Press Photo 2005

Neste concurso foram avaliadas as fotografias submetidas referentes a acontecimentos de 2004.

A fotografia vencedora foi de Arko Datta (Índia, Reuters) onde retrata uma mulher que lamenta com pesar um familiar morto na catástrofe do tsunami asiático. A fotografia foi tirada em Cuddalore, Índia, Tamil Nadu, a 28 de Dezembro de 2004.

As fotografias vencedoras nas várias categorias também foram escolhidas.

Vou ficar à espera do livro.

17 fevereiro 2005

Dia positivo 2


"In Glacier National Park", Montana, 1941
de Ansel Adams
National Archives and Records Administration, Records of the National Park Service

16 fevereiro 2005

Votar em quem?

Tenho de decidir como vou votar nas eleições legislativas, este próximo domingo.

Já os ouvi, mas devo acreditar em tudo o que dizem? Vou pensar que as promessas vão ser cumpridas? Não. Já vi o suficiente para saber que fazer uma campanha eleitoral é uma coisa e governar é outra.

Se calhar era mais fácil se não votasse.

Vou pensar que os políticos são todos iguais? Que todos querem é "tacho"? Que quando estão fora do Governo dizem todos uma coisa e depois lá já fazem todos outra? Também não. Já vi o suficiente para saber que não são todos assim e que nem sempre é assim. Não os isento de tentações e erros cometidos. Mas há uns que considero melhores e outros que considero piores. Não os julgo pela infalibilidade e perfeição porque isso os chumbaria a todos. Julgo-os pelos valores que defendem, pelas suas ideias e intenções, às vezes, pela obra que deixam feita.

Isto está a complicar. Devia é ficar quieto e não pensar mais nisto.

Ajudava à decisão se aparecesse um candidato, dum partido, que fizesse o que prometeu, que pusesse o pais direito, que desse aos desempregados um trabalho na função pública, que aumentasse as pensões em 20% e que desse subsídios a quem quer comprar um carrito. Tudo sem "lixar" os contribuintes.

Que desculpa arranjaria para não votar?

Até a data destas eleições marcaram mal.
Neste próximo fim-de-semana não há "ponte" nenhuma.
A praia ainda não convida e para mais fica mesmo ao pé de casa.

Acho que já me decidi.

Se eu quero opinar sobre o assunto, se eu acho mal o que dizem, ou o que fica por dizer, se eu não concordo com o que fazem, ou o que fica por fazer... só me resta ir lá, votar, para que não conste que nunca disse nada, que assenti porque me calei, porque quero que a minha opinião fique registada. Quer conte, quer não.

Votar em quem? Votar na Democracia.

15 fevereiro 2005

Livro: A vida de Pi


"A Vida de Pi" de Yann Martel

Descobri-o quando a minha esposa estava a lê-lo recomendado por um familiar. Com alguma paciência, a oportunidade de o ler não demorou. Foi uma boa alternativa àqueles exemplos de literartura europeia com tendência impermeável (de leitura mais difícil). Com este livro Yann Martel foi vencedor do Man Booker Prize 2002.

A nota inicial do autor (em inglês) começa por quase nos fazer perguntar "afinal isto é ficção ou aconteceu mesmo?". A imaginação desafia a realidade. É uma aventura com lições. A narração tem um detalhe próprio de quem fez um bom trabalho de casa. Uma leitura divertida e refrescante.

Mais informação:
Entrevista de Yann Martel no DN
Apresentação promocional do livro
Canongate - o livro no Reino Unido
Difel 82 (site em construção) - o livro em Portugal

10 fevereiro 2005

Ter filhos para quê?

Às vezes pergunto-me porque razão as pessoas querem ter filhos. Tive de fazer essa pergunta a mim próprio recentemente. As razões, não são difíceis de encontrar. Já ouvi várias respostas e quase todas me soam mal. Fico um bocado apreensivo ao perceber que em muitas situações os filhos que se desejam acabam por desempenhar uma função utilitária, e ser um meio para atingir um fim. Utilizam-se como ferramentas para:
  • melhorar o casamento ("os filhos dão outra vida a um casamento");
  • compensar um mau relacionamento entre o casal ("os meus filhos são as pessoas mais importantes da minha vida");
  • aumentar a felicidade do agregado familiar ("os filhos são a alegria de uma casa" ou "o meu filho quer um irmão");
  • resolver problemas de auto-imagem ("um filho dá um novo significado/propósito à vida");
  • fins estéticos ("queria ter um casalinho").

Os alvos deveriam ser menos egoistas, considerando um filho como uma pessoa com igualdade de direitos em ser amada como nós queremos ser amados, em ser querido como nós queremos ser queridos. Ter filhos é uma oportunidade de participar na concepção de uma pessoa, no seu desenvolvimento e formação. Ter um filho é uma oportunidade de dar amor e carinho.

As boas intenções existem frequentemente, mas quando é preciso incluir um filho recém-chegado num horário mais ou menos estabelecido, já carregado pelo trabalho, pelo trânsito, pelo cansaço e por várias relações pessoais - família, amigos, colegas -, as coisas complicam-se. Para esta obra é preciso ter consciência das novas necessidades e ter vontade de reorganizar o uso do tempo, sem esquecer todos os compromissos anteriores. É essencial ajustar a forma como se usa o tempo. Já nada é igual ao que era antes.

A realidade mostra que se arranjam desculpas com facilidade, pela necessidade de dispersar os recursos, o tempo, por tantas solicitações. Corre-se o risco de colocar a família ao nível do resto. Os filhos passam a ser mais um item na agenda e o tempo com eles é cada vez mais reduzido. Ao não usar de tempo para estar com eles, falar com eles, compreendê-los e fazer-nos compreender, ao não se desempenhar convenientemente o papel de pais, está-se a entregar essa responsabilidade, essa oportunidade, a educadores, professores, amigos e por vezes, mais grave, à televisão e internet. Porque nos ausentamos da sua educação, do seu dia-a-dia, das suas dúvidas, dos seus problemas, mas também das suas alegrias, os nossos filhos deixam de ser nossos, são só pessoas que vivem connosco e pelos quais somos responsáveis financeiramente.

Se queremos ter filhos, lá no fundo, é para isso que os queremos?

P.S. Agora sou pai, espero estar à altura.

04 fevereiro 2005

Associação de Municípios da Ria de Alvor

As Câmaras Municipais de Portimão e de Lagos assinalaram o Dia Mundial das Zonas Húmidas, subscrevendo os estatutos da futura Associação de Municípios da Ria de Alvor (PDF, 99KB) que ficam agora a aguardar ratificação das respectivas Assembleias Municipais.

A notícia explica que
Os dois autarcas quiseram "deixar claro" que a Associação de Municípios da Ria de Alvor Lagos/Portimão, "é instituída tendo como objectivos concretos, entre outros; a conservação da natureza, dos recursos naturais, projectos comuns que promovam o desenvolvimento, o uso público e especial, combinando a conservação com a natureza económica, sobretudo o ecoturismo".

A futura associação terá ainda como atribuições a elaboração e implementação de projectos comuns e a definição da localização, extensão e intensidade da aquicultura, marisqueio, pesca e uso balnear da área, assim como as infraestruturas de apoio, minimizando impactos ambientais e a reflorestação das encostas da bacia hidrográfica.

A sede da futura associação ficará instalada na antiga estação de caminhos-de-ferro da Mexilhoeira Grande (Portimão).
Na mesma ocasião, foi assinando conjuntamente com a Universidade do Algarve uma candidatura ao programa Life (PDF, 70KB) que propõe a execução de um projecto de investigação, que prevê a criação de um sistema de informação geográfica como ferramenta de gestão da área, a avaliação da capacidade que a zona têm para suportar uma exploração dos recursos naturais, a avaliação do estado de conservação dos vários habitats e recuperação dos que estiverem perturbados, o estabelecimento de indicadores biológicos e ecológicos e a sua monitorização, o zoneamento da Ria de Alvor e acções de educação ambiental.

Já se nota de há muito a necessidade da criação de um plano de ordenamento para a zona. Esperemos que pelo menos as autarquias estejam agora no bom caminho para encontrar um caminho equilibrado que proteja a área de intervenções urbanisticas desastrosas.

Um caso (bicudo) a seguir...

03 fevereiro 2005

Dia positivo 1


"The Tetons - Snake River", Wyoming, 1942
de Ansel Adams
National Archives and Records Administration, Records of the National Park Service

02 fevereiro 2005

A Ria de Alvor a reserva

São mais frequentes e visíveis os interesses urbanisticos para construir na Quinta da Rocha, uma propriedade apetecível pela sua dimensão e que está situada junto à Ria de Alvor.

Felizmente organizações científicas, ecologistas e partidos políticos continuam a lembrar que a classificação da Ria de Alvor é um assunto em aberto e que há que agir rápido antes que outros interesses se instalem e tornem irreversível a conservação desta área.

A notícia dá conta que
os candidatos a deputados pela CDU/Algarve alertaram hoje para a urgência da classificação da Ria de Alvor como reserva natural para evitar projectos de urbanização sem que seja avaliado o seu impacto.

E que a Ria de Alvor é
considerada a terceira zona húmida mais importante do Algarve, depois da Ria Formosa e do Sapal de Castro Marim, a Ria de Alvor é o melhor exemplar de uma baía-barreira em toda a Europa com melhor conservação a nível da zona mediterrânica.

A sua importância internacional determinou a classificação como Sítio RAMSAR (Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional), inclusão na Rede Natura 2000, fazendo parte a nível nacional da rede Biótopos Corine, reservas Ecológica e Agrícola, Espaço de Fomento Agro-florestal e Lista Nacional de Sítios no âmbito da directiva Habitats.
Apesar deste curriculum as autoridades portuguesas continuam a não transpor para o nível nacional esta importância reconhecida oficialmente a nível internacional.

Classifiquem a Ria de Alvor como reserva natural!

Mais informação:
A Rocha - Associação Cristã de Estudo e Defesa do Ambiente
Valores Naturais da Ria de Alvor
Ria de Alvor - Protecção e Desenvolvimento Sustentável (PDF, 295KB)
Proposta da Comissão Intermunicipal para a Ria de Alvor (PDF, 107KB)


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