29 abril 2005

Nós merecemos mais!

Fiquei desapontado com o conteúdo do artigo «A cultura do: "Nós merecemos"» destacado na capa da revista Focus desta semana (N.º289). O artigo é remetido para as últimas páginas e acaba por ser uma recolha de testemunhos de como algumas pessoas usam o seu dinheiro em coisas que lhes dão prazer. Nota-se até alguma cuidado em dar a conhecer onde fazem as compras, onde viajam, o que fazem para se sentir bem. Transforma-se o pouco conteúdo num mostruário publicitário, com preços incluídos.

Que tal uma abordagem um pouco mais sociológica da questão também? Mostrar a evolução dos valores? Com referências ao hedonismo e ao consumismo? E a origem destes comportamentos? E a forma transversal como afecta a sociedade portuguesa?

A Rita Garcia podia ter feito bem melhor. Nós merecemos mais!

26 abril 2005

Coisas que importam

O fim-de-semana fora de casa
O compasso de 3 dias no trabalho
Um Caso Bicudo abandonado
Os e-mails por verificar
O telemóvel desligado

O sol radioso
Um ar fresco e limpo
O pinhal a perder de vista
As dunas a mostrarem os sinais da Primavera
O mar com vagas cristalinas

O sono recuperado
As últimas páginas de um livro por acabar
Os passos na areia
As primeiras de outro livro que nunca foi lido
Uma meia-de-leite raríssima

O filho com quem brincar
Um choro para sossegar
O banho para dar
O momento de dormir
Um sorriso ao acordar

A mão dada na viagem
A presença que se deseja
O beijo que fala
Uma palavra repetida
A mulher que se ama

21 abril 2005

Reclamar ainda compensa

Referi aqui, a propósito da iniciativa "Uma vida sem tabaco", o ocorrido no Hospital São Francisco Xavier aquando do nascimento do meu filho: utentes fumavam junto à sala de espera do 3º piso e funcionários do hospital fumavam próximo dos quartos onde as mães aguardam a hora de ir para a sala de partos.

Mas não mencionei que a situação me motivou a apresentar reclamação no Livro Amarelo, o livro de reclamações para serviços públicos. Ontem recebi resposta da Administração da instituição hospitalar, que passo a citar:
Agradeçemos a reclamação elaborada por V.Exa.. Concordamos com o seu teor, mas apesar de todos os esforços desenvolvidos, por vezes é difícil fazer cumprir a legislação em vigor.
Lamentavelmente os deveres de cidadania para muitos dos familiares e utentes do Hospital não se situam ao mesmo nível dos direitos que reclamam. No caso em apreço, apesar de se encontrar devidamente afixada a placa de proibição de fumar, a mesma nem sempre é respeitada.
Mais informamos que foram retirados os cinzeiros das escadas e que foram reforçados os avisos de proibição de fumar.
Apresentamos as nossas desculpas pelo incómodo causado.
Para minha estupefação, constato nas palavras do Administrador deste hospital que, afinal, a atribuição de responsabilidades deve ser feita aos familiares e utentes do hospital, que reclamam mais do que cumprem. Mas não deixa de ser irónico que no mesmo sítio onde é proibido fumar houvessem cinzeiros disponíveis, a dar oportunidade para uma excepção. Ao que parece terão sido agora retirados.

Fico sinceramente reconhecido à Administração do Hospital São Francisco Xavier pelo trabalho que terá tido em alterar algumas situações que não estimulavam o cumprimento da lei. Agora, podemos admitir que não se consiga fazer muito mais quanto à falta de respeito tida por familiares e utentes das suas instalações, mas o mesmo já não pode dizer quanto ao comportamento de funcionários sobre os quais a Administração tem autoridade para fazer cumprir as regras em vigor no hospital, no entanto nada é mencionado na carta de resposta à reclamação feita. Também sobre isso gostaria de ter recebido uma palavra.

No fim, fico contente por saber que reclamar ainda muda alguma coisa, embora pudesse mudar mais. Às vezes, não estou para me incomodar, e deixo passar ocasiões, mas na realidade o que estou a fazer é pactuar com um comportamento que virá a prejudicar outras pessoas.

Reclamar ainda compensa.

20 abril 2005

Fotografias em domínio público

Procurei com persitência por obras fotográficas que pela sua idade tivessem caído no domínio público, ao abrigo do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos. De acordo com o código (Capítulo VI, Artigo 57º) fiquei a saber que
A defesa da genuinidade e integridade das obras caídas no domínio público compete ao Estado e é exercida através do Ministério da Cultura.
Assim, cabe ao Estado desenvolver e actualizar arquivos de todas estas obras para poder cumprir estas imcumbências. As descobertas feitas na legislação portuguesa são em tudo semelhantes ao que vemos noutros países. Os cidadãos podem aceder a um vasto património (não só fotográfico) que é administrado, verificado e disponiblizado pelas entidades estatais responsáveis.

Cá em Portugal consegui, através Ministério da Cultura, chegar ao Centro Português de Fotografia (CPF) onde se identificam atribuições nos domínios de
património e arquivos, promoção e divulgação da produção e da cultura fotográficas, formação nas áreas específicas da fotografia e do património fotográfico.
Com a possibilidade iminente de encontrar o acesso ao acervo fotográfico português em domínio público inquiri o CPF por e-mail. Na resposta que tive passados uns dias fiquei a saber que são os seguintes os arquivos de obras fotográficas disponíveis em domínio público em Portugal:
A lei até que é boa...

19 abril 2005

Ouviram?

Não ouvi. Quando passou na rádio. Quando pus o CD a tocar, enquanto recordava quem mo tinha dado. Quando carreguei na tecla Play para aceder àquele pequeno ficheiro informático que trago comigo. Não ouvi.

No outro dia, num intervalo de ser pai, deu-me para ver o DVD que acompanha o CD. E ouvi.

Sempre gostei de saber sobre os bastidores, o making of de coisas feitas por gente que aprecio. Desta vez falo dos U2 e o seu último álbum How To Dismantle An Atomic Bomb. Os álbuns anteriores já me tinham habituado a músicas com conteúdo, mas percebi porque este me soava íntimo, nalguns registos, quando ouvi pela primeira vez a razão de ser da música "Sometimes You Can't Make it On Your Own". Quando fiquei a saber que Bono tinha escrito esta música a pensar no seu pai, nas boas e más memórias, nas frustrações e alegrias deste relacionamento.

Depois disto o significado da letra da música ganhou outras dimensões quando a ouço:
Tough, you think you’ve got the stuff
You’re telling me and anyone
You’re hard enough

You don’t have to put up a fight
You don’t have to always be right
Let me take some of the punches
For you tonight

Listen to me now
I need to let you know
You don’t have to go it alone

And it’s you when I look in the mirror
And it’s you when I don’t pick up the phone
Sometimes you can’t make it on your own

We fight all the time
You and I… that’s alright
We’re the same soul
I don’t need… I don’t need to hear you say
That if we weren’t so alike
You’d like me a whole lot more

Listen to me now
I need to let you know
You don’t have to go it alone

And it’s you when I look in the mirror
And it’s you when I don’t pick up the phone
Sometimes you can’t make it on your own

I know that we don’t talk
I’m sick of it all
Can - you - hear - me – when – I -
Sing, you’re the reason I sing
You’re the reason why the opera is in me…

Where are we now?
I’ve got to let you know
A house still doesn’t make a home
Don’t leave me here alone...

And it’s you when I look in the mirror
And it’s you that makes it hard to let go
Sometimes you can’t make it on your own
Sometimes you can’t make it

The best you can do is to fake it
Sometimes you can’t make it on your own

Já mais alguém ouviu como eu ouvi?

15 abril 2005

"Hipoligações"

No dia 4 de Abril o Público passou a restringir o acesso aos conteúdos online da sua edição impressa somente a assinantes. As razões desta decisão foram explicadas por José Vítor Malheiros, director do Público.pt. Nota: se não conseguir aceder é porque não é assinante...

Houve reacções imediatas, mas gostei especialmente da abordagem bem documentada no Atrium respondida pelo meio no ContraFactos & Argumentos ( 1, 2, 3, 4, 5 e 6 ) e da oportunidade humorada do Quartzo, Feldspato & Mica.

Desde que essa medida foi tomada, têm havido na blogosfera portuguesa um mais ou menos discreto mas deliberado protesto evitando a citação de artigos publicados neste jornal ou, pelo menos, a inclusão de hiperligações para os artigos citados. Não publicar a hiperligação para um artigo cujos conteúdos não são de acesso universal e gratuito parece-me natural.

Agora, faz-me confusão é o tal "boicote" só ter surgido agora. Especialmente quando se recorre a hiperligações para fazer referências a conteúdos constantemente actualizados devia haver algum cuidado em verificar que o endereço usado na hiperligação é suficientemente perene para, pelo menos, poder ser usado com sucesso pelos leitores nas semanas seguintes.

É que não é só de agora que o Público limita o acesso aos seus conteúdos. Agora é necessário ser assinante, mas já antes do dia 4 que os conteúdos da edição impressa deixavam de estar disponíveis ao fim de 7 dias (excepto para utilizadores do Público Plus). Qualquer hiperligação feita para um destes artigos encontrava uma mensagem informando da indisponibilidade dessa página. Mais. Até mesmo alguns conteúdos mantidos actualmente em acesso gratuito deixavam (e ainda deixam) de estar disponíveis, passado algumas semanas, através dos endereços com que foram divulgadas inicilamente, embora continuem no servidor. Refiro-me nomeadamente ao Última Hora.

A mim não me interessa publicar o que quer que seja com hiperligações que passado umas semanas me deixam sem contexto. Ao Público também não. Estamos de acordo.

Actualização:
Inclusão de mais hiperligações para o assunto no Atrium e no ContraFactos & Argumentos.

11 abril 2005

No cofre de um banco

É lá que está um antigo dossier produzido pela Legião Portuguesa com mais de 3.600 nomes de agentes e informadores da PIDE, alguns deles ainda vivos, diz a notícia.

Não são precisas grandes averiguações para perceber que este tipo de documentos deve ser entregue na Torre do Tombo, onde outros documentos com conteúdos similares estão arquivados, mas onde a consulta é regulamentada.

08 abril 2005

sms 2

Não marcar reuniões de trabalho sem avisar antes, especialmente para um fim de tarde de sexta-feira.

sms 1

Usar um telemóvel se necessário...

01 abril 2005

Teste a uma ideia

Para antecipar o recomeço do debate sobre o aborto quero dar a oportunidade de fazerem um pequeno teste para ajudar a fixar uma ideia (é que vão precisar dela).

As respostas permitidas são simples, [V]erdadeiro ou [F]also, mas não há meio-termo.

[  ] Um embrião é uma pessoa
[  ] Um feto é uma pessoa
[  ] Um prematuro é uma pessoa
[  ] Um recém-nascido é uma pessoa
[  ] Um bebé é uma pessoa
[  ] Uma criança é uma pessoa
[  ] Um adolescente é uma pessoa
[  ] Um recém-licenciado é uma pessoa
[  ] Um adulto é uma pessoa
[  ] Um velho é uma pessoa
[  ] Um moribundo é uma pessoa
[  ] Um morto é uma pessoa

Voltaremos a falar sobre isto.

Queres casar comigo?

Há uns anos atrás, às 8:00 da manhã, eu estava a dormir quando a pedi em casamento.

Estávamos num centro de estudos ambientais, ainda as pessoas que lá passavam o fim-de-semana dormiam, quando a sua colega de quarto abriu a porta do quarto para ir ao local onde faria a sua higiene matinal. Espantada, recuou para dentro do quarto e acordou-a "é melhor veres o que lá está fora, acho que é para ti". Levantou-se, ainda ensonada, despenteada, sem uma banho tomado, em pijama (tudo o que tinha tentado evitar para esta ocasião), dirigiu-se à porta e encontrou um letreiro pendurado que dizia "Ao fim de 5 meses de namoro, queres casar comigo?". A esse letreiro estava ligado um fio que percorria todo o centro, pendurado aos ziguezagues pelas várias divisões, com bandeirinhas suspensas, onde repeti vezes sem conta a pergunta "queres casar comigo?" e o desafio "então o que estou a fazer a dormir?". Ouvi baterem à porta, levantei-me e meti no bolso do pijama a caixinhia de veludo que estava debaixo da almofada. Abri a porta e ela disse "sim".


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